quarta-feira, 1 de junho de 2016

Agora é a minha vez!



Uma sirene me acordou (em estado desesperador)
Me levantei, lavei o rosto, quase morro de desgosto
Pois foi um sonho e se acabou
(Seu Nélson Motta deu a nota que hoje o som é rock and roll.
A Tabajara é muito cara e o velho tempo já passou!)

João Nogueira (1941-2000).  Baile no Elite.

       O cantor e compositor Ed Motta, quando bem jovem, gostava de demonstrar em entrevistas seus conhecimentos sobre enologia.  Certa vez, com muita irreverência, o sobrinho de Tim Maia disse, a respeito de um produto carregado de açúcar e anilina, porém engarrafado em vidro bonito, que "o vinho da garrafa azul é xarope". Entendo menos sobre o assunto do que Ed Motta, talvez apenas o suficiente para fugir sempre da dupla mortífera açúcar/anilina. Não posso escapar de todo, entretanto, de lidar com os "vinhos da garrafa azul" da História, que atendem pelo nome de bibliografia politicamente incorreta.              
          Antes que o leitor me pergunte o que, afinal, os versos de João Nogueira colocados no alto da página têm a ver com isto, me apresso em explicar: foi através de uma coluna assinada por Nélson Motta, n'O Globo, há alguns anos, que vim a saber da existência do cidadão Leandro Narloch. Para ser exato, não sei se posso chamar tal gênero de texto de coluna: são notas curtas, de um terço de lauda ou meia lauda, no máximo, em que o veterano crítico musical ocasionalmente despeja sua fúria contra tudo que dê a impressão de ameaçar o conservadorismo rançoso que abraçou na Terceira Idade.  Ou, ao invés disto, se compraz em festejar como descobridor da pólvora ou inventor da roda qualquer Danilo Gentili que ganhe, ou precise ganhar, espaço na mídia.
          Naquele dia, então, Nélson Motta decidiu apresentar a Coxinhópolis como gênio o desconhecido (ou quase) Narloch, um jovem que supostamente embasado em pesquisas exaustivas estava prestes a desmontar no atacado as balelas da Historiografia "tradicional", publicando um livro bombástico.  Não me recordo, para falar a verdade, se o termo usado foi mesmo "tradicional". Creio que até os inimigos entenderão minha preguiça em recuperar o original.  Para efeitos práticos, digo que Nélson Motta estava torcendo para que um garoto do Paraná derrubasse a casa na cabeça dos malvados historiadores vermelhos.  Já o autor, ao ser premiado com seus primeiros minutos televisivos, afirmaria que o objetivo da coisa era somente "irritar o maior número possível de pessoas".    
           O resto, creio que todos sabem: logo chegou às bancas e livrarias o primeiro Guia Politicamente Incorreto.  Nélson Motta, é claro, não "fez" Leandro Narloch.  Foi, como Augusto Nunes, Miguel Nagib e outros, apenas um dos agentes da campanha propagandística de proporções gigantescas que teve sucesso, e bastante, na tarefa de convencer milhares de homens e mulheres de que aquela era a verdadeira História, e não a dos professores emproados que pretendem "levar o Brasil para o comunismo".
             Narloch não descobriu a pólvora nem inventou a roda, mas teve a esperteza necessária para surfar mais alto do que os demais em uma onda que já subia há tempos. Desde o início do milênio, alguns escritores, em sua maioria jornalistas, mas sem excluir um ou dois historiadores graduados, sob o pretexto de "popularizar a História" se dedicavam a publicar obras repletas de diálogos imaginários entre personalidades ilustres, enxertadas também com enredos bem hipotéticos que serviam para fechar as inevitáveis lacunas, as questões não solucionadas que desafiam qualquer pesquisa histórica, por mais demorada e minuciosa que seja.
          O resultado, na totalidade dos casos, irritava de fato inúmeros historiadores, mas a estrutura romanceada atraía fãs como as mais populares novelas pós-Jornal Nacional.  A Geração 2000 dos romances históricos não se caracterizava obrigatoriamente por discursos reacionários. Porém, movida acima de tudo pela necessidade de vender, acabava por se assemelhar, no que diz respeito à glamourização dos "grandes vultos", aos manuais escolares da primeira metade do século XX e do início da última ditadura.  Bem menos ingênua, a literatura politicamente incorreta recorre de maneira superficial à bibliografia especializada para construir generalizações destinadas a desacreditar e esvaziar os movimentos populares e devolver ao papel tradicional de vilões as lideranças que, no decorrer dos séculos, se opuseram aos objetivos de classe dos ditos "grandes vultos".               
            Minha proposta para hoje não é brigar com Leandro Narloch e seus sucessores. Estes, a julgar pelo que tenho visto ultimamente, vêm exercitando na Internet a sutileza intelectual de um Alexandre Frota, e se prosperarem transformarão o precursor em forte candidato à Academia Brasileira de Letras. Como gosto de fazer experimentos, sobretudo os que me permitem continuar na parte ventilada da crosta terrestre, tentarei nesta postagem me comportar como um deles; com sinal trocado, é lógico, e, como bom vermelho, sem pretensões quanto ao mercado editorial. 
          Atiro ao mundo virtual as dez composições abaixo, com uma simples recomendação: usem-nas como quiserem.  Seu Nélson Motta não vai dar a nota.  Olavo de Carvalho adorou trazer 1.300 olavetes para visitar o meu blog, mas duvido muito que o agora rabugento empregado da família Marinho queira investir em algo parecido.  No final das contas, o espírito da coisa é mesmo só irritar!                     
                                                                                    




  






















2 comentários:

  1. Professor PCC, imagina se 1300 Olavetes chegassem aqui e gritassem: tchau tchau querida!!! Tchau querida!!!tchau querida!!! Tchau querida!!! Tchau querida!!!tchau querida!!! Tchau querida!!! Tchau querida!!!tchau querida!!! Tchau querida!!! Tchau querida!!!tchau querida!!! Tchau querida!!! Tchau querida!!!tchau querida!!! Tchau querida!!! Tchau querida!!!tchau querida!!! Tchau querida!!! Tchau querida!!!tchau querida!!! Tchau querida!!! Tchau querida!!!tchau querida!!! Tchau querida!!! Tchau querida!!!tchau querida!!! Tchau querida!!! Tchau querida!!!tchau querida!!! Tchau querida!!! Tchau querida!!!tchau querida!!! Tchau querida!!! Tchau querida!!!tchau querida!!! Tchau querida!!! Tchau querida!!!tchau querida!!! Tchau querida!!! Tchau querida!!!tchau querida!!! Tchau querida!!! Tchau querida!!!tchau querida!!! Tchau querida!!! Tchau querida!!!tchau querida!!! Tchau querida!!! Tchau querida!!!tchau querida!!! Tchau querida!!! Tchau querida!!!tchau querida!!! Tchau querida!!! Tchau querida!!!tchau querida!!! Tchau querida!!! Tchau querida!!!tchau querida!!! Tchau querida!!! Tchau querida!!!tchau querida!!! Tchau querida!!! Tchau querida!!!tchau querida!!! Tchau querida!!! Tchau querida!!!tchau querida!!! Tchau querida!!! Tchau querida!!!tchau querida!!! Tchau querida!!! Tchau querida!!!tchau querida!!! Tchau querida!!! Tchau querida!!!tchau querida!!! Tchau querida!!! Tchau querida!!!tchau querida!!! Tchau querida!!! Tchau querida!!!tchau querida!!! Tchau querida!!! Tchau querida!!!tchau querida!!! Tchau querida!!! Tchau querida!!!tchau querida!!! Tchau querida!!! Tchau querida!!!tchau querida!!! Tchau querida!!! Tchau querida!!!tchau querida!!! Tchau querida!!! Tchau querida!!!tchau querida!!! Tchau querida!!! Tchau querida!!!tchau querida!!! Tchau querida!!! Tchau querida!!!tchau querida!!! Tchau querida!!! Tchau querida!!!tchau querida!!! Tchau querida!!! Tchau querida!!!tchau querida!!! Tchau querida!!! Tchau querida!!!tchau querida!!! Tchau querida!!! Tchau querida!!!tchau querida!!! Tchau querida!!! Tchau querida!!!tchau querida!!! Tchau querida!!! Tchau querida!!!tchau querida!!! Tchau querida!!! Tchau querida!!!tchau querida!!! Tchau querida!!! Tchau querida!!!tchau querida!!! Tchau querida!!! Tchau querida!!!tchau querida!!! Tchau querida!!! Tchau querida!!!tchau querida!!! Tchau querida!!! Tchau querida!!!tchau querida!!! Tchau querida!!! Tchau querida!!!tchau querida!!! Tchau querida!!! Tchau querida!!!tchau querida!!! Tchau querida!!! Tchau querida!!!tchau querida!!! Tchau querida!!! Tchau querida!!!tchau querida!!! Tchau querida!!! Tchau querida!!!tchau querida!!! Tchau querida!!! Tchau querida!!!tchau querida!!! Tchau querida!!! Tchau querida!!!tchau querida!!! Tchau querida!!! Tchau querida!!!tchau querida!!! Tchau querida!!! Tchau querida!!!tchau querida!!! Tchau querida!!! Tchau querida!!!tchau querida!!! Tchau querida!!! Tchau querida!!!tchau querida!!! Tchau querida!!! Tchau querida!!!tchau querida!!! Tchau querida!!! Tchau querida!!!tchau querida!!! Tchau querida!!! Tchau querida!!!tchau querida!!! Tchau querida!!! Tchau querida!!!tchau querida!!! Tchau querida!!! Tchau querida!!!tchau querida!!!tchau querida!!! Tchau querida!!! Tchau querida!!!tchau querida!!! Tchau querida!!! Tchau querida!!!tchau querida!!! Tchau querida!!! Tchau querida!!!tchau querida!!! Tchau querida!!! Tchau querida!!!tchau querida!!! Tchau querida!!! Tchau querida!!!tchau querida!!! Tchau querida!!! Tchau querida!!!tchau querida!!! Tchau

    Você, professor PCC, e a esquerda DCE burra, bovina e acéfala se sentiriam ultrajados por terem eleito uma Anta para a presidência? Você se sentiria novamente uma celebridade?

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  2. Eu pensaria numa forma de espalhar Haldol em escala nunca antes sonhada, de maneira a atingir, no mínimo, Belém do Pará.

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